terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Carta compromisso de fundação do Levante Popular da Juventude - Brasil

Foto 1: I Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, 5 de fevereiro de 2012, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil – Arquivo Levante


Nós, do Levante Popular da Juventude, no momento em que fundamos nossa organização, em nosso I Acampamento Nacional, com a participação de 1200 jovens de 17 estados brasileiros, nos comprometemos com a transformação profunda da realidade em que vivemos.


Enxergamos um mundo dividido entre aqueles que exploram, e as trabalhadoras e os trabalhadores que têm o fruto de seu trabalho roubado. Esse é o sistema capitalista-patriarcal-racista, que mundialmente estabelece as formas de organização da sociedade na sua forma imperialista. Ele cria uma relação de dominação entre culturas e povos, destrói o meio ambiente, oprime e explora as mulheres, assassina a juventude negra, silencia gays e lésbicas e tolhe, cotidianamente, todos os nossos sonhos.


O Brasil é um país de natureza e cultura fantásticas, mas carregamos as dores da escravidão, o saqueio das grandes potências, e uma história de uma elite dependente, mas que sempre concentrou o poder em suas mãos. Os meios de comunicação, a terra, a água, energia, a educação, o lazer e a oferta de saúde de qualidade ainda estão nas mãos dessa elite. Aos trabalhadores, restaram somente as periferias das grandes cidades, as encostas de morro e as beiradas de rio, extensas jornadas de trabalho e salários miseráveis; no campo, a reforma agrária e a produção de alimentos foram deixadas de lado e substituídas pela utilização de transgênicos e agrotóxicos, tudo orientado para a exportação.

   

Foto 2: Lideranças populares no I Acampamento Nacional do Levante - Arquivo Levante
 

Nós, jovens, estamos no meio desse furacão: no campo, nas periferias e favelas, nas escolas e universidades, no trabalho. Somos constantemente disputados pelo projeto capitalista. É em contraposição a este projeto que nos lançamos ao desafio da construção do Projeto Popular.

Por isso, nos comprometemos:

  • Com a luta pela construção de uma democracia popular, que socialize com qualidade as terras, a água, a energia, os meios de comunicação, o acesso à saúde, à educação, à moradia, ao transporte.
  • Com a luta pela soberania, porque os povos devem tomar seu país e sua história nas mãos, sem serem sujeitados pelo imperialismo ou outros poderosos. O desenvolvimento deve ser ambientalmente sustentável e estar voltado ao interesse do povo.
  • Com a prática permanente de solidariedade com todos os povos que sofrem e lutam. Com atenção especial para nossos hermanos latino americanos, que carregam a mesma história de opressão e luta que nós.
  • Com a luta contra o machismo, na sociedade e dentro de nossa organização, pois, se os trabalhadores são explorados pelo sistema capitalista, as mulheres são duplamente oprimidas e exploradas: enquanto trabalhadoras, e enquanto mulheres, pelo sistema patriarcal. Temos que estar lado a lado com as organizações do movimento feminista no combate ao patriarcado, à violência sexista e à mercantilização do corpo e da vida das mulheres, assim como fomentar a auto-organização das mulheres do Levante.

Foto 3: Debate ao ar livre no I Acampamento Nacional do Levante - Arquivo Levante

  • Com a luta contra o racismo, dentro e fora de nossa organização, porque a população preta é a mais explorada da classe trabalhadora e mesmo depois de 124 anos da falsa abolição continua sendo o alvo preferencial da violência de Estado. É necessário lutarmos junto ao movimento negro e outras organizações antirracistas para que possamos construir uma sociedade livre do racismo.
  • Com a luta contra a lesbofobia, a transfobia e a homofobia, também dentro e fora de nossa organização,  porque não existem relações afetivas mais normais e comuns que outras, e nenhuma orientação sexual deve ser motivo para legitimar desigualdades e opressões.
  • Com a luta por um projeto de educação que sirva aos interesses do povo. Por isso, defendemos que exista um número suficiente de vagas tanto em creches quanto em escolas secundárias e universidades, bem como cotas sociais e raciais, no campo e na cidade. Por isso, também reivindicamos os 10% do PIB para a educação; a educação só terá qualidade se estiver voltada para os interesses do povo, atendendo todas e todos.
  • Com a luta por transporte público, gratuito e de qualidade, enfrentando os aumentos nos preços de passagem.
  • Com a luta por ampliação do acesso à cultura e ao lazer, contra sua mercantilização. Lutaremos para que existam mais possibilidades de produção e troca culturais, como música, teatro, artes visuais, cinema, dança, e tantas outras formas de expressão. Também utilizaremos da cultura e do lazer como formas de resistência, de resgate da nossa história e da nossa identidade de povo brasileiro.
  • Com a luta contra o trabalho precarizado e informal. A luta pela garantia e expansão dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras (exploradas duplamente, no local de trabalho e em casa) é essencial para a criação de um país menos desigual. Pela jornada de 40 horas semanais, sem a redução de salários.
Foto 4: Palestra no I Acampamento Nacional do Levante - Arquivo Levante

Sabemos que para isso é extremamente necessária a massificação desta luta, trazendo cada vez mais jovens para o nosso projeto, porque só a juventude tem a força necessária para transformar essa sociedade. É com o trabalho coletivo, combatendo o individualismo e a estagnação, que tomaremos o futuro em nossas mãos. Esse é o caminho para a liberdade com que tanto sonhamos e precisamos para viver.


Construiremos uma organização com coerência: devemos fazer o que dizemos e dizer o que fazemos; com autonomia, construída por aqueles que trabalham no Levante; com estudo e disciplina, para dar cada passo com firmeza, conhecendo com profundidade o caminho que devemos trilhar; com o exercício de crítica e autocrítica, porque não devemos temer ou ocultar os erros, mas enfrentá-los de frente, para, então, superá-los.


Entendemos que serão esses compromissos que garantirão a construção do Levante Popular da Juventude, do Projeto Popular e da Revolução Socialista brasileira. A tarefa não é fácil: não esperamos ter todas as respostas nem construir tudo isso sozinhos, mas nos desafiaremos a dar tudo o que pudermos, porque devemos nos construir como a juventude que ousa lutar, que constrói alternativas e que é parte do povo brasileiro. Somente com alegria, amor e muita animação chegaremos lá!


Juventude que ousa lutar constrói o poder popular!

I Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, 05/02/2012, Santa Cruz do Sul, RS



Foto 5: Bateria anima os jovens no I Acampamento Nacional do Levante - Arquivo Levante
 
  

Fonte: https://levantepopulardajuventudern.blogspot.com/

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 




Entrevista explosiva publicada no Pavio Curto em abril de 2001


Dom Waldyr: ”Saímos da ditadura militar para a ditadura do capital”

O encontro com Dom Waldyr Calheiros foi na Cúria de Volta Redonda, na tarde quente e chuvosa de 8 de março de 2001, Dia Internacional da Mulher. Durante mais de uma hora, a equipe do Pavio Curto ouviu uma verdadeira aula de história e cidadania.

O bispo emérito da Diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda foi entrevistado por Alvaro Britto, Clóvis Lima, Andresa Gil, Dodora Mota e João Henrique Barbosa. Falou-se de ditadura militar, capitalismo, Igreja, movimento sindical, juventude, mídia, Henfil, mulher, imprensa alternativa e esperança.  

Alvaro – 37 anos depois do golpe militar e 16 após a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, ainda vivemos em uma ditadura?

D. Waldyr – Nós saímos da ditadura militar, mas o capitalismo procurou outro caminho para manter a sua dominação. Eles mandaram os militares de volta aos quartéis e implantaram o neoliberalismo. São cartas marcadas mundialmente, principalmente após o fim do modelo do socialismo real. Saímos da ditadura militar para a ditadura do capital. Mas já começa a haver uma reação contrária, um descontentamento geral de âmbito internacional. Os ditadores, como sempre, procuram não escutar. Querem só mandar. O resultado é o aumento da exclusão. Antigamente, chamávamos de marginalização. O marginal ainda estava na margem. Agora está excluído. 

Dodora -  Então a exclusão é um aprofundamento da marginalização?

D. Waldyr – A exclusão é muito pior. Na marginalização ainda havia possibilidade de pelo menos algumas migalhas chegarem à margem. E aí havia motivação para se brigar, lutar, reunir. Exclusão é não tomar conhecimento daqueles que não interessam à acumulação de capital. O próprio presidente Fernando Henrique confessou que o governo não tem solução para os excluídos. O pior é que a exclusão não ficou estabilizada. Ela cresce a cada dia. Aí está a iniquidade: um pequeno grupo está cada vez mais rico. 

Alvaro – E como sobrevivem os excluídos? 

Eles dependem do assalto, da violência, do tráfico de drogas. A sociedade não oferece outro caminho. 

Dodora – Os capitalistas perderam o controle da situação ou tudo isto já era previsto?

D. Waldyr – Eles já tinham conhecimento dessas consequências. Se entenderem que o atual modelo está esgotado, procuram outro para manter a mesma dominação e a mesma iniquidade com uma cara nova. Isso se não houver uma reação globalizada contra esse sistema.

João Henrique -  Na ditadura, a sociedade se organizou, enfrentou e derrotou o regime militar. E hoje, qual o caminho para mobilizar os excluídos contra o neoliberalismo?

D. Waldyr – Os excluídos vivem no desespero. Antigamente, as classes populares pelo menos tinham o pé em alguma atividade social. Já os excluídos não têm nenhuma esperança de colocar o pé e firmar-se na sociedade. O que vemos é uma minoria consciente que luta por espaços dentro da atual situação. Mas estes espaços ainda são pequenos. Antigamente, os movimentos populares da região tinham grande apoio do Sindicato dos Metalúrgicos. Hoje, isso acabou. Algumas organizações não governamentais, as ONGs, começam a incomodar, assumindo posições definidas em torno da miséria, mas ainda limitadas às consequências do modelo existente. Todavia, não se comparam à força que tínhamos nos sindicatos. O que foi mais atingido foi o relacionamento da produção, a relação entre capital e trabalho. Todas as vantagens da tecnologia e da mecanização serviram para concentrar ainda mais a riqueza e enfraquecer o trabalho. Eu vejo com muita esperança o Movimento Sem Terra. Os poderosos estão investindo tudo para abalar e desmoralizar o MST.  Precisamos, todos que estão na luta, fazer mais força onde a força está aparecendo, apoiando o MST.

Alvaro – Apesar do enfraquecimento dos movimentos populares, a oposição tem crescido a cada eleição...

D. Waldyr – Não basta ser oposição apenas no discurso. O mais importante é a prática, a participação na lutas e organização do povo. Infelizmente, muitos companheiros passaram deste para o outro lado, esquecendo dos antigos ideais. O grande desafio da esquerda é encontrar o caminho para questionar o modelo e ocupar espaços. Hoje não temos mais as certezas do passado. A utopia da libertação se apresentava e nos incentivava a lutar. Os capitalistas conseguiram desmoralizar a alternativa do socialismo, que era o nosso estímulo. Mas precisamos continuar construindo os sinais da nova sociedade. 


Alvaro – Mas boa parte da esquerda hoje nem fala em socialismo. Resume suas bandeiras à ética, democratização e melhor distribuição de renda. Isso resolve?

D. Waldyr – Mesmo quando o socialismo era uma aspiração comum da esquerda, havia uma variedade de modelos socialistas espalhados pelo mundo. Com o fim da União Soviética, apagou-se a luz. Algumas bandeiras que levantamos hoje são ambivalentes. E ética na política é um exemplo. Pode servir para consolidar o capitalismo. Mas alguns dizem que estão desmoralizando o modelo. 

Alvaro – A própria Rede Globo abriu um espaço grande para a campanha contra a corrupção eleitoral no ano passado...

D. Waldyr – Mesmo quem está na luta não tem certeza de nada. Hoje, essas denúncias da forma que são feitas servem para desmoralizar a política e aumentar a falta de credibilidade da população. Cada vez mais, diminuem a esperança do povo. 

João Henrique – Como o senhor avalia a polêmica ACM x Jader Barbalho?

D. Waldyr – A grande imprensa está a serviço da burguesia dominante. E aí transforma a crise em um grande espetáculo para anestesiar o povo em relação aos verdadeiros problemas do país. E ainda passa a imagem de que nunca se teve tanta liberdade para se dizer que ACM é ladrão mas continua roubando e que Jader é ladrão e continua presidente do Congresso Nacional. 

Dodora – O Roberto Marinho participa de tudo isso...

D. Waldyr – Claro. Ele também pertence à esta burguesia dominante. Ele sabe o que é importante e como divulgar. Eles têm clareza que este tipo de crise não possibilita o surgimento de uma alternativa real de poder. Diferente do final dos anos 70, início dos anos 80, quando surgiram o PT, a CUT, o MST. Eu mesmo fui convidado para algumas discussões em São Paulo pelo Lula, Meneguelli e Frei Betto. Hoje existe essa grande polêmica na esquerda, principalmente no PT, entre aqueles que acham que é possível lutar pelo socialismo e aqueles que consideram que o que está aí é o possível no momento. 

João Henrique – A nossa região era bastante politizada. Hoje o movimento popular está praticamente calado. O que a ditadura militar não conseguiu o neoliberalismo conseguiu?

D. Waldyr – Volta Redonda me impressionou muito quando, pouco antes do golpe militar, no histórico comício da Central do Brasil, os trabalhadores da CSN seguravam tochas acesas. Aquilo era um sinal bem forte da garra daqueles operários. Daí a preocupação da burguesia com Volta Redonda. Principalmente pelo grau de organização dos trabalhadores. A ditadura tentou abafar esse fogo, mas o fogo abafado não foi extinto. E de vez em quando levantava uma labareda. O vento soprava e uma chama brotava. Hoje, eles conseguiram acabar com tudo. Começaram pelo Sindicato, derrubando os lutadores que resistiam a tudo isto. Depois a privatização da CSN. Antes, aconteceu a morte de Juarez Antunes. 

Dodora – O senhor acha que a morte de Juarez foi planejada?

D. Waldyr – A morte do Juarez foi matada. Mataram ele. Disso eu tenho certeza. A grande força de Volta Redonda e da região estava em cima do operariado. Antigamente, havia uma sintonia total entre o Sindicato da CUT e outros movimentos populares. Eles acabaram com isso. 

João Henrique – E qual o papel da Igreja Católica nisso tudo?

D. Waldyr – Hoje é um papel muito reduzido. Dentro da própria Igreja houve um freio. Houve um revertério em relação à Igreja do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellin, onde ficou definida a opção pelos pobres, o apoio à libertação do povo oprimido. Não basta aquela dimensão de socorrer os pobres, dar esmolas. O importante é acabar com a causa da pobreza. E a causa da pobreza é o sistema capitalista. Dessa forma, os movimentos populares passaram a ter o apoio da Igreja. Foi aí que os Estados Unidos, o ‘Tio Sam’, fez uma pressão muito forte sobre o Vaticano, começando o recuo da Igreja. O cardeal do Rio, Dom Eugênio Salles, teve uma influência muito grande para deter o avanço da Igreja. Hoje, ela não incentiva mais esse trabalho transformador, libertador. 

Dodora – Mas a miséria só aumenta na América Latina, na África, na Ásia. A Igreja não vai retomar a ação contra isso?

D. Waldyr – Há locais que ainda permanece. Oficialmente, só há pronunciamentos gerais. O próprio papa João Paulo II diz que a Igreja deve ficar ao lados dos pobres. Mas a sua equipe, a Cúria Romana, não avança de jeito nenhum. Até censurou os teólogos da libertação, como Leonardo Boff e Gustavo Gutierrez. Por exemplo, o seu secretário de Estado é um cardeal que declarou ser contra o julgamento de Pinochet porque trabalhou como núncio apostólico no Chile durante a ditadura. E o papa teve que fechar a boca. Portanto, a Igreja vive essa ambiguidade. 

Alvaro – Ao mesmo tempo, cresce o movimento dos carismáticos...

D. Waldyr – Sempre foi difícil trazer a massa da Igreja para a luta. A maioria só pensa no lado religioso. E aí eu concordo com o Marx, que disse que o religioso desligado da vida é alienante: “a religião é o ópio do povo”. Não é por acaso que o Tio Sam investiu na proliferação das igrejas pentecostais, que só pensam lá em cima, não pensam cá embaixo. E parte da Igreja Católica também aderiu. O papa Paulo VI ainda fez algumas restrições mas acabou passando. Mas já está perdendo fôlego. 


Alvaro – E a polêmica da instalação da casa de Custódia na região?

D. Waldyr – Não podemos nos esquecer da raiz de toda essa miséria. Antigamente dizíamos: abra uma fábrica e feche duas penitenciárias. Hoje é o contrário. Se as fábricas estão fechando, é preciso abrir penitenciárias. Ele dão valor extraordinário a isso. Mas significa apenas amenizar um pouco a miséria daqueles que estão lá dentro. Eu vejo isso como uma solidariedade aos nossos irmãos que foram levados a esta situação pela falta de emprego, de educação, de saúde.  

Dodora – Mas alguns políticos têm se aproveitado...

D. Waldyr – Do que é que esses politiqueiros não se aproveitam? O bispo Dom João Messe, em seu discurso, meteu o pau nesses políticos que querem se aproveitar da casa de Custódia para negociar obras e vantagens. 

Dodora – Há um espaço vazio junto aos excluídos que a esquerda não consegue ocupar e que o crime organizado está ocupando. Eu fiquei impressionada com as rebeliões de presos em São Paulo, com o grau de organização e mobilização...

D. Waldyr – Com isso, o governo federal liberou dinheiro para construir onze novos presídios em São Paulo. 

Alvaro – Como o senhor vê o papel da mídia na sustentação deste modelo e como podemos avançar nessa área dos meios de comunicação? 

D. Waldyr – Em todos os momentos da nossa história, ao lado da mídia oficial havia a mídia alternativa, independente. O patrono do Pavio Curto, Henfil, teve um papel fundamental no fortalecimento da imprensa alternativa durante a ditadura militar. Aquilo ajudou muita gente que estava na luta a manter-se informada, consciente da realidade. Eu acho que a imprensa alternativa ajuda uma minoria a manter acesa a chama da esperança na transformação. 

Alvaro – Diz-se muito que a juventude está alienada. O senhor concorda?

D. Waldyr – O que é que este mundo está oferecendo à nossa juventude? Os meios de comunicação oferecem uma música vazia, sem conteúdo. Isto alimenta a caldeira da iniquidade que produz esta exclusão. Não se vê nenhum estímulo à consciência crítica da juventude. Num mundo que cada vez mais necessita de educação, informação, conhecimento, a mídia vai exatamente na contramão. 

Alvaro – Mas uma parte da juventude de hoje será a elite dominante de amanhã. Será que a burguesia não está dando um tiro no pé?

D. Waldyr – A juventude está sendo vítima do que a sociedade está oferecendo para ela. Ela está sendo educada para a alienação total. As drogas são consequência dessa alienação. Um jovem que não tem nenhuma esperança vai experimentar tudo. 

Dodora – Uma minoria da juventude está sendo bem preparada. Em Volta Redonda, a pré-escola e o segundo grau regular não têm vagas suficientes, enquanto a Escola Técnica é privilegiada e tem um ensino de qualidade.

D. Waldyr – O movimento estudantil teve um papel fundamental na informação e conhecimento da juventude. Era uma beleza ver o jovem gritando por mudança, por transformação. Hoje há uma política de privatização do ensino e da universidade pública. Isso reduz o acesso daqueles que têm mais aspirações de transformação social à universidade, ou seja, a conhecimentos mais aprofundados.

Alvaro – Apesar de tudo, a burguesia consegue manter a situação sob controle...

D. Waldyr – Houve uma grita geral contra a dívida externa. Até o papa, mesmo sem saber direito o que estava falando pediu o perdão da dívida. Mas ficamos com uma interrogação. Quem vai controlar o dinheiro que o país deixar de pagar? É a mesma burguesia dominante que irá usá-lo de acordo com os seus interesses.

Dodora – Por outro lado, a participação de jovens em algumas manifestações internacionais tem aumentado. Existe o crescimento de alguns movimentos alternativos como o anarquismo e o hip hop, que expressam consciência e rebeldia da juventude com a atual situação. 

Alvaro – Parece que a política institucional é que está mais desgastada junto à juventude, que procura então outras formas de organização...

D. Waldyr – A burguesia está mesmo desmoralizando a política. 

Alvaro – Aí respinga pra todo mundo, seja sério ou ladrão...

D. Waldyr – De vez em quando eles sacrificam um Luís Estevão* da vida para mostrar que a política é suja. 

Dodora – A imprensa alternativa tem um papel importante neste momento...

D. Waldyr – Sem dúvida. Durante a ditadura, os boletins diocesanos ajudaram a despertar muita gente para a realidade da situação. As notícias, críticas e denúncias da imprensa alternativa permaneceram. Elas batem na cabeça da pessoa e ficam ali interrogando, questionando. Precisamos investir nisso. O que não podemos é ficar em cima de uma coisa sem saber porque. Por exemplo: Pastoral Carcerária é só para levar sabonete e escova de dentes para preso? Não, é muito mais importante denunciar o que causa essa miséria da superpopulação nas prisões.   

João Henrique – E a situação da mulher, Dom Waldyr?

D. Waldyr – Há alguns grupos de luta das mulheres que são muito atuantes. Elas investem bastante em jornais, boletins, enfim, na imprensa alternativa. Parece que a mulher é que vai libertar o homem primeiro.  

Alvaro – Dom Waldyr, uma mensagem de esperança para os leitores do Pavio Curto...

D. Waldyr – O nome é muito inteligente. Dizem por aí que eu tenho pavio curto. Já é uma identificação. Me alegro muito com essa iniciativa de vocês, ao resgatar aqui na região a imprensa alternativa. Parece que não é nada, mas é uma semente. E a gente sabe que uma semente desaparece mas depois reaparece com mais força. Evidentemente há um tempo de fermentação debaixo da terra. Mas depois ela vai florir. E aí a gente pergunta: por quê? E acaba lembrado da semente.


Essa foi a capa do Pavio em 2001. Na época escrevemos o nome de Dom Waldyr com "i", algo que só percebemos posteriormente. Nada que tenha prejudicado a entrevista. Seja com "i" ou com "y" Dom Waldyr será sempre lembrado como o defensor dos oprimidos e da justiça social.

O bispo do povo

Dom Waldyr Calheiros de Novaes chegou a Volta Redonda no dia 8 de dezembro de 1966, trazendo a libertadora visão da Igreja do Concílio Vaticano II. Nunca se omitiu diante do arbítrio e da violência da ditadura militar, sendo por isso indiciado em três inquéritos. 

No governo Médici, quatro soldados de Volta Redonda, que serviam em Barra Mansa, foram barbaramente torturados e mortos. Dom Waldyr foi incansável até conseguir a apuração dos fatos. Os responsáveis – 14 militares e dois policiais civis – foram condenados a 474 anos de prisão por tortura, assassinato e ocultação de cadáver. 

De 1967 a 1970, foram presos inúmeros metalúrgicos e jovens militantes de movimentos católicos. Dom Waldyr, informado das torturas sofridas por eles, procurou as autoridades militares e denunciou o fato em todas as missas dominicais da Diocese.

Sempre foi solidário às lutas dos trabalhadores. Em vários movimentos e greves, abriu as instalações da Igreja para que os operários pudessem melhor se organizar e lutar pelos seus direitos. 

A sua presença foi marcante na greve de 1988, quando tropas do Exército invadiram a CSN e mataram três operários. Uma celebração com 60 mil pessoas protestou contra a violência e se solidarizou com os trabalhadores.

Em 1988, Dom Waldyr sofre uma tentativa de sequestro no Rio de Janeiro. Uma semana antes, havia recebido a informação de que ele e o líder operário e prefeito Juarez Antunes “estavam condenados à morte, provavelmente fora de Volta Redonda”. Juarez morreu num desastre de carro em 21 de fevereiro de 1989. 


* empresário e primeiro senador da República (PMDB-DF) a ser cassado em 2000, sendo condenado em 2006 a 31 anos de prisão por corrupção

Fotos: Arquivo Pavio Curto; Alvaro Britto; e José Maria da Silva, o Zezinho do MEP.


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Entrevistas explosivas e Abraçando nossa Cultura!

O Pavio Curto entrevistou a gestora cultural, atriz e atualmente vereadora pelo PT em Salvador/BA Maria Marighella. A neta de Carlos Marighella fala sobre seu avô, sobre o filme dirigido por Wagner Moura que estreou dia 4 de novembro, data que marca o assassinato de Marighella. A entrevista está dividida em cinco partes. Aproveitem e inscrevam-se no canal TV Pavio Curto!


O Pavio Curto entrevistou o jornalista Mário Magalhães, autor do livro Marighella que deu origem ao filme dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge. Mário Magalhães falou sobre sua pesquisa e investigação e também um pouco sobre o filme. Aproveitem!




Em Abraçando nossa Culstura, ouvimos a história de vida de Terezinha Puri. Memórias de infância, memórias do povo Puri que resiste na região da Serra da Mantiqueira.
O vídeo está dividido em duas partes.
Aproveite e inscreva-se no canal!

Ouvimos também a história de vida de Dorinha Puri. Que também vive na região da Mantiqueira.

Aproveite e inscreva-se no canal!





terça-feira, 5 de outubro de 2021

Anielle Franco

O Pavio Curto bateu um papo com Anielle Franco, professora, jornalista e ex-jogadora de Volei, que atualmente está presidente do Instituto Marielle Franco. Assista, se inscreva no canal, curta e divulgue!

Assista aqui ou pela TV PAVIO CURTO!

Parte 1


Parte 2

Parte 3





domingo, 4 de julho de 2021

terça-feira, 15 de junho de 2021

Hélio Luz

Entrevista explosiva do Pavio Curto com o grande companheiro Hélio Luz, referência ética e de luta da esquerda. Entre diversos assuntos, tratamos de: segurança pública, polícia, corrupção, milícia, jogo do bicho, liberação das drogas, política nacional, esquerda, PT, encarceramento, golpes de 2016 e 2018, movimentos populares… foram temas dessa roda de conversa inesquecível. Mais que isso, uma mensagem de certeza que a organização popular é o caminho da transformação. 


Parte 1

Parte 2


Parte 3

Parte 4


Parte 5


Parte 6


Parte 7


Parte 8


terça-feira, 8 de junho de 2021

Força e Defesa

 O Pavio Curto bateu um papo com alguns componentes do grupo musical Força e Defesa, que representou o Brasil no Festival Virtual Internacional UNA CANCIÓN PARA MILAGRO.

Esse festival teve como principal objetivo a luta pela liberdade da líder indígena Milagro Sala, que está presa na Argentina desde 2016 vítima de uma armação jurídica das elites locais.













Ideli Salvatti

Em entrevista no dia 8 de maio à TV Pavio Curto, a ex-senadora e ex-ministra Ideli Salvatti, fala da política atual, dos golpes na democracia brasileira, da pandemia, aponta os erros da esquerda e traça um possível panorama político para 2022. Imperdível! Assista, compartilhe e inscreva-se no canal Pavio Curto.

































sábado, 3 de abril de 2021

Assista a entrevista de Cid Benjamin concedida ao Pavio Curto no dia 27 de fevereiro de 2021.
Na entrevista, Cid fala de sua experiência como militante na resistência à ditadura militar, do cárcere, da importância de sua mãe Iramaya na busca pela anistia.
Também falamos sobre o Brasil atual, sobre um programa que unifique a esquerda, e sobre as lições deixadas por Nelson Mandela.











Entrevista com Sandra Mayrink Veiga

Sandra Mayrink Veiga, sobrevivente da ditadura, em entrevista ao Pavio Curto denuncia a impunidade histórica e critica pedido de anistia a B...