terça-feira, 24 de dezembro de 2024

ENTREVISTA EXPLOSIVA COM DONA IVA RESENDE

 Por Alvaro Britto*

Estou aqui porque eu gosto da terra e de plantar. A nossa luta é para que essa comida saudável chegue na mesa do povo brasileiro!”



No assentamento Irmã Dorothy


Essa fala é de Iva Resende de Oliveira, a Dona Iva, 76 anos, matriarca do Assentamento da Reforma Agrária Irmã Dorothy, localizado em Quatis, no Sul Fluminense, entrevistada pelo Pavio Curto em dois momentos de 2024. Uma curta edição já foi divulgada nas redes sociais do Pavio em novembro.

Ela nasceu em 05/10/1948 na cidade de Resende Costa, em Minas Gerais. Está no Irmã Dorothy desde 2012 e antes ficou dois anos no acampamento Mariana Crioula, em Valença.


                     Dona Iva sendo entrevistada


Dona Iva contou a história dos 20 anos de luta junto com as demais famílias assentadas, recitou versos, entoou cânticos da reforma agrária e até anunciou o seu casamento para breve.

A minha luta é essa, é tão gostoso você colher uma verdura, uma fruta, sabendo que ela está sem veneno. Nós aqui não usamos nada que prejudique a saúde”, afirmou emocionada Dona Iva.


Casamento

Eu vou casar no religioso aqui no Irmã Dorothy em 2025. No civil não teve nada, mas o religioso irá abalar Paris! Quero mostrar um pouco de mim, o que gosto de fazer, vou chegar vestida de noiva numa charrete”, prometeu a noiva, que foi presidente da Associação de Agricultoras e Agricultores do Assentamento Irmã Dorothy


Dona Iva no brechó do assentamento


Ela revelou que o noivo, Luiz Paulo da Costa, “era um rapaz solteiro que não, sabia ler, não conhecia o pai e a mãe, não sabe nem de que lado veio. Agora, conversamos muito e ele começou a estudar. Tá até animado e diz que vai ser advogado. Eu falei: “Você pode ser mesmo, mete a cara!” Eu também prometi ajudar ele nos deveres da escola assim que voltar a enxergar bem.”

Dona Iva está se recuperando de uma cirurgia nos olhos e está enxergando muito pouco. “Luiz não tem vício nenhum, não bebe, não fuma, não joga. Ele cuida muito de mim. Depois da cirurgia em novembro, nunca mais eu fiz comida e ele cozinha muito bem. Eu sou enjoada. Como qualquer coisa mas tem que ser tudo muito bem feitinho, limpinho”, elogiou ela.




Irmã Dorothy

Em 1997, a Fazenda da Pedra, onde está localizado o Assentamento Irmã Dorothy, foi identificada como imóvel que não cumpria com a função social da propriedade. Em 2004, o INCRA iniciou o processo para criação do assentamento e, em 2005, famílias organizadas pelo MST e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Barra Mansa ocuparam o local, reivindicando a reforma agrária.

Decreto assinado pelo presidente Lula no seu primeiro mandato autorizou o processo judicial de desapropriação em 19 de outubro de 2006. No dia 15 de outubro de 2014, foi determinada pela Justiça a imissão na posse do imóvel pelo INCRA e em 2015, foi finalmente criado o Assentamento Irmã Dorothy. O seu nome homenageia a missionária Dorothy Stang, assassinada em 12 de fevereiro de 2005 a mando de latifundiários em Anapu, no Pará. 

                      Irmã Dorothy Stang


Atualmente a principal luta é a regularização das famílias pelo Incra, com a definição daquelas que efetivamente serão assentadas no Irmã Dorothy. “Aqui as coisas são conquistadas com muita luta de todos. Estamos esperançosos que o nosso direito será respeitado e confiamos na atual gestão do Incra”, disse Dona Iva.

Outra luta da comunidade é a conclusão da construção do galpão que irá acolher várias atividades – como feira de produtos agrícolas e artesanato, eventos culturais, cursos de formação - e sediar a Associação de Agricultoras e Agricultores do Assentamento Irmã Dorothy.



   Dona Iva e seu Luiz fazendo o cadastro no INCRA.


* Jornalista

Fotos: Alvaro Britto e arquivo do MST




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