Foto 1: I Acampamento Nacional
do Levante Popular da Juventude, 5 de fevereiro de 2012, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil – Arquivo Levante
Nós, do Levante Popular da Juventude, no momento em que fundamos nossa organização, em nosso I Acampamento Nacional, com a participação de 1200 jovens de 17 estados brasileiros, nos comprometemos com a transformação profunda da realidade em que vivemos.
Enxergamos um mundo dividido entre aqueles que exploram, e as trabalhadoras e
os trabalhadores que têm o fruto de seu trabalho roubado. Esse é o sistema
capitalista-patriarcal-racista, que mundialmente estabelece as formas de
organização da sociedade na sua forma imperialista. Ele cria uma relação de
dominação entre culturas e povos, destrói o meio ambiente, oprime e explora as
mulheres, assassina a juventude negra, silencia gays e lésbicas e tolhe,
cotidianamente, todos os nossos sonhos.
O Brasil é um país de natureza e cultura fantásticas, mas carregamos as dores
da escravidão, o saqueio das grandes potências, e uma história de uma elite
dependente, mas que sempre concentrou o poder em suas mãos. Os meios de
comunicação, a terra, a água, energia, a educação, o lazer e a oferta de saúde
de qualidade ainda estão nas mãos dessa elite. Aos trabalhadores, restaram
somente as periferias das grandes cidades, as encostas de morro e as beiradas
de rio, extensas jornadas de trabalho e salários miseráveis; no campo, a
reforma agrária e a produção de alimentos foram deixadas de lado e substituídas
pela utilização de transgênicos e agrotóxicos, tudo orientado para a
exportação.
Foto 2: Lideranças populares no I Acampamento Nacional do Levante - Arquivo Levante
Nós, jovens, estamos no meio desse furacão: no campo, nas periferias e favelas, nas escolas e universidades, no trabalho. Somos constantemente disputados pelo projeto capitalista. É em contraposição a este projeto que nos lançamos ao desafio da construção do Projeto Popular.
Por isso, nos comprometemos:
- Com
a luta pela construção de uma democracia popular,
que socialize com qualidade as terras, a água, a energia, os meios de
comunicação, o acesso à saúde, à educação, à moradia, ao transporte.
- Com
a luta pela soberania, porque os povos
devem tomar seu país e sua história nas mãos, sem serem sujeitados pelo
imperialismo ou outros poderosos. O desenvolvimento deve ser
ambientalmente sustentável e estar voltado ao interesse do povo.
- Com
a prática permanente de solidariedade com
todos os povos que sofrem e lutam. Com atenção especial para nossos
hermanos latino americanos, que carregam a mesma história de opressão e
luta que nós.
- Com a luta contra o machismo, na sociedade e dentro de nossa organização, pois, se os trabalhadores são explorados pelo sistema capitalista, as mulheres são duplamente oprimidas e exploradas: enquanto trabalhadoras, e enquanto mulheres, pelo sistema patriarcal. Temos que estar lado a lado com as organizações do movimento feminista no combate ao patriarcado, à violência sexista e à mercantilização do corpo e da vida das mulheres, assim como fomentar a auto-organização das mulheres do Levante.
- Com
a luta contra o racismo, dentro e
fora de nossa organização, porque a população preta é a mais explorada da
classe trabalhadora e mesmo depois de 124 anos da falsa abolição continua
sendo o alvo preferencial da violência de Estado. É necessário lutarmos
junto ao movimento negro e outras organizações antirracistas para que
possamos construir uma sociedade livre do racismo.
- Com
a luta contra a lesbofobia, a transfobia e a
homofobia, também dentro e fora de nossa
organização, porque não existem relações afetivas mais normais
e comuns que outras, e nenhuma orientação sexual deve ser motivo para
legitimar desigualdades e opressões.
- Com
a luta por um projeto de educação que
sirva aos interesses do povo. Por isso, defendemos que exista um número
suficiente de vagas tanto em creches quanto em escolas secundárias e
universidades, bem como cotas sociais e raciais, no campo e na cidade. Por
isso, também reivindicamos os 10% do PIB para a educação; a educação só
terá qualidade se estiver voltada para os interesses do povo, atendendo
todas e todos.
- Com
a luta por transporte público,
gratuito e de qualidade, enfrentando os aumentos nos preços de passagem.
- Com
a luta por ampliação do acesso à cultura e
ao lazer, contra sua mercantilização. Lutaremos para
que existam mais possibilidades de produção e troca culturais, como
música, teatro, artes visuais, cinema, dança, e tantas outras formas de
expressão. Também utilizaremos da cultura e do lazer como formas de resistência,
de resgate da nossa história e da nossa identidade de povo brasileiro.
- Com a luta contra o trabalho precarizado e informal. A luta pela garantia e expansão dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras (exploradas duplamente, no local de trabalho e em casa) é essencial para a criação de um país menos desigual. Pela jornada de 40 horas semanais, sem a redução de salários.
Sabemos
que para isso é extremamente necessária a massificação desta
luta, trazendo cada vez mais jovens para o nosso projeto, porque só a juventude
tem a força necessária para transformar essa sociedade. É com o trabalho coletivo, combatendo o individualismo e a
estagnação, que tomaremos o futuro em nossas mãos. Esse é o caminho para a
liberdade com que tanto sonhamos e precisamos para viver.
Construiremos uma organização com coerência: devemos
fazer o que dizemos e dizer o que fazemos; com autonomia,
construída por aqueles que trabalham no Levante; com estudo e disciplina, para dar cada passo com
firmeza, conhecendo com profundidade o caminho que devemos trilhar; com o
exercício de crítica e autocrítica, porque não devemos temer ou
ocultar os erros, mas enfrentá-los de frente, para, então, superá-los.
Entendemos que serão esses compromissos que garantirão a construção do Levante
Popular da Juventude, do Projeto Popular e da Revolução Socialista
brasileira. A tarefa não é fácil: não esperamos ter todas as respostas nem
construir tudo isso sozinhos, mas nos desafiaremos a dar tudo o que pudermos,
porque devemos nos construir como a juventude que ousa lutar, que constrói
alternativas e que é parte do povo brasileiro. Somente com alegria, amor e
muita animação chegaremos lá!
Juventude que ousa lutar constrói o poder popular!
I Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, 05/02/2012, Santa Cruz do Sul, RS
Fonte: https://levantepopulardajuventudern.blogspot.com/
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